Prostituição: por que seguimos ignorando o que elas estão nos dizendo?

Por:  Thais Ferreira, Layza Queiroz e Maitê Maronhas*

A prostituição feminina sempre foi tema de diversas discussões em todo o mundo. Poder público, religiões, academia e organizações sociais, sobretudo feministas, protagonizam o debate e influenciam nas políticas direcionadas a esse setor.

No Brasil, a aproximação da Copa do Mundo, o Projeto de Lei 4.211/2012 de autoria do Deputado Federal Jean Wilys, o episódio envolvendo o Ministério da Saúde que determinou a suspensão de uma campanha institucional com a divulgação da mensagem “Sou feliz sendo prostituta”, além da recente visibilidade das organizações de prostitutas, do transfeminismo e da nova configuração do feminismo no cenário nacional, trazem o assunto para a pauta do dia.

As religiões, sobretudo de matrizes cristãs, moralizam o discurso contrário a qualquer forma de regulamentação da atividade exercida pelas prostitutas. A mulher que presta esse “tipo de serviço” é considerada, ao mesmo tempo, vítima e pecadora, além de ser um exemplo de degradação dos valores morais e ameaça à instituição familiar.

Enquanto assistimos o crescimento da influência e do poder do fundamentalismo religioso nos ameaçando com retrocessos, o governo, por sua vez, adota uma postura negligente e comete erros grosseiros no tratamento da questão.

Por outro lado, as organizações sociais feministas e transfeministas, assim como pesquisadoras e pesquisadores do tema, não conseguem encontrar um consenso. As divergências variam desde a concepção sobre prostituição como escolha e seguem pelo debate da regulamentação da atividade e destinação de políticas públicas adequadas.

Todo esse contexto faz com que o debate da prostituição fique em um verdadeiro limbo e o desamparo as prostitutas permanece. Qual a nossa postura enquanto feministas?

Campanha institucional do Ministério da Saúde para o Dia da Prostituta que foi cancelada dois dias depois da divulgação do material.

Campanha institucional do Ministério da Saúde para o Dia da Prostituta que foi cancelada dois dias depois da divulgação do material.

 

O lugar da mulher no sistema capitalista

A prostituição feminina está inegavelmente associada ao patriarcado, às desigualdades sociais de gênero, à feminização da pobreza e à mercantilização da vida.

O sistema capitalista transforma tudo em produto, inclusive as relações e a vida das pessoas, atribuindo-lhe preços para venda no mercado. Aliando-se ao patriarcado, o capitalismo se vale das diferenças de sexo e de gênero para vulnerabilizar o sujeito feminino e potencializar sua exploração.

No Brasil, as mulheres ocupam os postos de trabalho mais precarizados e recebem cerca de 30% a menos que os homens no desempenho das mesmas funções. São cotidianamente vítimas das mais variadas manifestações da violência sexista (física, sexual, psicológica, institucional, etc.) e estão longe de alcançar o que chamamos de autonomia econômica.

Estes elementos contribuem para compreender a situação das mulheres hoje e o contexto em que buscam meios para sua sobrevivência e de suas famílias.

Nesse contexto, a prostituição pode ser uma opção?

Quando questionadas acerca de deixar a atividade, muitas colocam: de que outra forma conseguiria a renda que a prostituição me proporciona?

Profissões como caixa de supermercado, atendentes de telemarketing, domésticas, faxineiras, copeiras, são alternativas existentes no mercado de trabalho para grande parte das mulheres. Mesmo com outros postos de trabalho disponíveis, “muitas prostitutas indicam a venda do sexo como uma atividade mais lucrativa e até menos desagradável” (1).

A exaustiva e precarizada jornada de trabalho das profissões disponíveis, aliada à possibilidade de conquistar maior renda no exercício da prostituição, faz com que muitas prefiram fazer sexo em troca de dinheiro a trabalhar como doméstica ou caixista de supermercado em troca de quantia muito menor.

Trabalhadoras domésticas, por exemplo, colocam seu tempo, seu corpo e sua saúde à disposição de outras pessoas e estão submetidas a condições precárias de trabalho, preconceito e exploração. Para elas também não há “escolha livre”, sua condição é pré-determinada pela realidade econômica e contexto social em que vivem.

Nós, feministas, defendemos que o trabalho doméstico e de cuidados não deveria ser comercializado. Lutamos pela redução da jornada de trabalho, o que permitiria que homens e mulheres cuidassem da reprodução da vida e dividissem de forma justa os afazeres domésticos.

Mas, nem por isso, as mulheres que vendem trabalho doméstico no mercado devem ficar desamparadas perante a legislação, apesar dessa venda reforçar muito do que combatemos.

A grande questão é que a prostituição envolve sexo e, na vivência da sexualidade, as mulheres são historicamente oprimidas pelos homens. Contudo, essa realidade, infelizmente, não é uma exclusividade do sexo vendido. Nas palavras de uma prostituta:

Pior: quando você casa com um homem, aí sim ele se acha seu dono. O que eu faço aqui na rua não é nadinha diferente daquilo que fazia em casa, quando era casada. Ou você acha que trepava com meu marido todos os dias porque morria de tesão e amores por ele? Não senhor! Era um trabalho, igual a esse aqui. Minto: era um dever. E você não ganha nada por um dever. Aqui sou paga por aquilo que faço, pelo menos. Meu marido nunca me pagou. Aliás, era eu que vivia dando dinheiro para ele. Em: Amor um real por minuto – A prostituição como atividade econômica no Brasil urbano (.pdf) texto de Ana Paula da Silva e Thaddeus Gregory Blanchette.

 

Neste ponto, chegamos a uma necessidade inadiável no debate da prostituição, que é esclarecer e distinguir algumas noções. É preciso parar de confundir a venda do corpo com a venda do sexo, assim como é preciso desfazer a associação automática da prostituição à exploração sexual e ao tráfico humano. Essa confusão reforça a ideia de que a prostituição ocorre invariavelmente à revelia das mulheres, o que não é uma verdade.

Segundo uma prostituta da região da Rua Augusta de São Paulo: “Eu alugo umas sacanagens por uma boa grana. Isso de vender o corpo é bobagem, Lis. Não vendo nada, não. É tudo meu!”. Em: Prostituição e a liberdade do corpo (.pdf), texto de Elisiane Pasini.

 

Ainda, é fundamental distinguir a exploração sexual (quando a venda do sexo ocorre sob coerção) da prostituição (quando uma mulher decide se prostituir). Tratar a prostituta sempre como uma vítima incapaz de tomar decisões por si mesma é subestimá-la.

Hoje em dia, quase nenhum trabalhador ou trabalhadora tem condições de deixar o emprego simplesmente por querer, pois, via de regra, não tem condições de simplesmente abrir mão de seu salário.

Limitada e viciada, como todas as nossas “escolhas” nos marcos do capitalismo, a prostituição pode ser uma decisão que mulheres tomam num dado contexto. Por mais que nós queiramos que as mulheres tenham um mundo de possibilidades à sua disposição, nesse momento, elas não têm, e a ausência de proteção e garantias às prostitutas se revela como mais uma violência contra elas.

O sistema capitalista transforma tudo em mercadoria e o sexo não pode ser visto como um campo alheio às relações socioeconômicas capitalistas: “de fato, Friedrich Engels até faz questão de equiparar ‘a cortesã habitual’ que ‘aluga o seu corpo por hora’ como a trabalhadora assalariada” (2).

Lutamos para que as relações entre as pessoas e o sexo não sejam mais um produto do mercado? Sim, lutamos. Acreditamos que isso será possível nesse sistema econômico? Definitivamente não. Mas é necessário garantir o controle da atividade hoje e assegurar condições para seu exercício.

prostituta_pernambuco

Cartaz feito pela APPS, Fórum LGBT de Pernambuco, Instituto PAPAI, Centro das Mulheres do Cabo e dos Núcleos de Pesquisa do Departamento de Psicologia da UFPE (Gema, LabEshu e Gepcol) em protesto a decisão do governo brasileiro de censurar e alterar a campanha institucional do Ministério da Saúde. Leia a nota divulgada junto com o cartaz.

Regulamentação da prostituição

A situação das prostitutas no Brasil é de completa desproteção e descaso. A ausência de regulamentação da atividade mantém as mulheres expostas a situações de risco.

Violência, abusos e violação de direitos são características inerentes à clandestinidade. Assim como a criminalização das drogas beneficia as grandes máfias, a ausência de controle do Estado sobre a prostituição favorece o tráfico de pessoas e a exploração sexual. A regulamentação enfraquece quem lucra com a ilegalidade.

Deixar que o poder econômico e a autonomia privada regulem a forma de realização da prostituição é ser, no mínimo, negligente para com as mulheres. Aqui, reafirmamos o papel do Estado na garantia de direitos.

A regulamentação visa estabelecer parâmetros básicos para que a atividade seja exercida. As casas de prostituição, como qualquer outro local de prestação de serviços, demandam controle do Estado para fiscalização das condições de trabalho, higiene e segurança.

É importante colocar que as casas de prostituição são apontadas por elas como o local mais seguro para exercerem a atividade. O ambiente das ruas é perigoso, não só no processo de negociação com o cliente, como também pela própria sociedade que as hostiliza e ameaça constantemente. Nas palavras de uma prostituta da Paraíba, em relato sistematizado pela Associação das Prostitutas (APROS):

“Tem cliente que queria obrigar. Mas quando o cliente chegava a querer obrigar, chamava os homens da pousada. Por isso que eu nunca me passei a sair, entrar no carro com um homem e ir pra outro lugar, algum canto desconhecido. Porque aqui perto, tem as pousadas, ai a gente chama o proprietário; olhe, ele que me obrigar a isso e aquilo.” (M. 25 anos). (3)

É claro que a venda do sexo nas casas de prostituição tem um importante componente de expropriação e de exploração, assim como em todo trabalho vendido no mercado: no capitalismo, o patrão se apropria de praticamente toda a riqueza gerada pela força-de-trabalho.

Na legislação atual, o exercício individual da prostituição não é um crime, mas a associação destinada à prestação deste serviço é considerada ilegal — sujeita à detenção de dois a cinco anos (art. 228 do Código Penal). Ou seja, se as prostitutas se organizarem para prestar o serviço de forma independente da figura do cafetão, elas também estarão cometendo um crime.

Nesse contexto, a regulamentação pode permitir que as prostitutas se organizem de forma autônoma, a exemplo da ideia de cooperativas sugerida no Projeto de Lei 4.211/2012.

Sabemos que a prostituição envolve elementos específicos da relação de poder homem-mulher que não podem deixar de ser considerados. Contudo, os relatos das prostitutas indicam a ausência da regulamentação e de direitos como sendo o principal problema. Por que seguimos ignorando o que elas estão dizendo?

A regulamentação é importante na medida em que reconhece as prostitutas, no exercício de sua atividade, como sujeito de direitos, sendo alvo de garantias legais e políticas públicas efetivas.

Ademais, é sabido que a prostituição é quase sempre a única fonte de trabalho e renda das pessoas trans*. A postura inegociavelmente contrária a qualquer regulamentação da atividade chega a ser irresponsável para com a população transexual e travesti, que vive toda a sua vida à margem de direitos e de cidadania.

É contraditório continuarmos militando no campo do ideal. Até que as mulheres tenham autonomia econômica e sexual, a situação da prostituição no país não pode continuar nessa penumbra: legalmente reconhecida como trabalho pelo Ministério do Trabalho e Emprego, porém não regulamentada. Quem perde são as prostitutas. Quem perde são as mulheres.

Referências

(1) e (2) SILVA, Ana Paula da e BLANCHETTE, Thaddeus Gregory. Amor Um Real Por Minuto: a prostituição como atividade econômica no Brasil urbano (.pdf).

(3) LEITE, Davi Valentim de Sousa. A formalização da relação de trabalho das profissionais do sexo. Monografia defendida para conclusão do curso de Direito na Escola de Estudos Superiores de Viçosa, 2009.

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* Thais Ferreira, Layza Queiroz e Maitê Maronhas são militantes da Marcha Mundial das Mulheres de Minas Gerais.

Comments

  1. Mesmo discordando da regulamentação, achei esse um texto bom para o debate no nosso campo do feminismo, especialmente porque situa os desafios de lidar com a situação concreta da prostituição nos marcos de uma luta anticapitalista e antipatriarcal.
    É um dos únicos textos que não ataca as feministas que discordam dessa visão como moralistas, conservadoras, etc.
    Coloca o Estado e os governos na roda pra garantir a dignidade e os direitos das mulheres enquanto vivemos nesse mundo horroroso em que há um padrão de sexualidade que oprime as mulheres, privilegiando o prazer dos homens.
    Só queria colocar uma consideração: o projeto do Jean Wyllys não responde a essas questões, porque a simples regulamentação das casas de prostituição (nos termos desse projeto) não garante os direitos defendidos para as prostitutas.
    Inclusive essa possibilidade das cooperativas ele não tirou da cartola e já existem experiências nesse sentido…

    • Thaddeus Gregory Blanchette says:

      Sim, o projeto de lei de Jean Wyllys não traz a utopia: NENHUM projeto de lei pode fazer isto. Todavia, ele ataca na raiz os principais problemas do atual sistema de prostituição, como identificados pelas próprias prostitutas. NADA – fora a criminalização – poderia ser pior que o nosso atual sistema de “regulamentação não regulamentada”.

      O trabalho sexual já é “regulamentada” no Brasil, Tica. 40-60% do dinheiro que a prostituta ganha já sai de suas mãos, quase universalmente. Novamente, esse fato seria reconhecido por pessoas como você se vocês levantassem da cadeira de teoria feminista e fossem para qualquer zona, comprar cerveja para qualquer puta, e começar uma conversa séria sobre seu trabalho.

      (E olha só: é a mesma situação em países como a Suécia e os EUA onde o trabalho sexual é supostamente proibido mas é simplesmente empurrado à clandestinidade.)

      O projeto de lei de Jean Wyllys estabelece um limite MÁXIMO na extração da mais valia: ele não estipula que todo trabalhos sexual tem que ter essa extração.

      Mas mesmo uma cooperativa de prostitutas vai ter que empregar:

      1) Porteiro
      2) Telefonista
      3) Camareira
      4) Seguranças….

      Tudo isto há de ser pago com o dinheiro do sexo. Algum dinheiro há de ser retirado, então, do preço do programa para estes fins. Algum limite, então, deve ser estipulado nisto.

      Se o projeto de Lei Gabriela Leite for aprovado, vai ser o primeiro projeto de lei na história do Brasil que estabelece um limite na extração da mais valia do labuto de terceiros. Por essa razão só, ela seria uma lei absolutamente radical.

      Dar às prostitutas a condição de cidadã plena e trabalhadora, então, é a cereja por cima do bolo.

  2. Thais Ferreira says:

    Ei Tica, num tinha visto o comentário antes! Essa questão das cooperativas é algo que nos desperta mta curiosidade e não conhecemos experiências parecidas, você conhece algum lugar, ou texto/site sei lá, onde podemos achar informações?
    Como dizemos no texto, o exercício da prostituição não é crime, mas a associação destinada a este fim é passível de punição penal… isso é um problemão, né?! Porque aquelas que queiram se organizar pra não dependerem de terceiros acabam correndo risco, com a legislação da forma como está hoje..

  3. Thaddeus Gregory Blanchette says:

    Bom, acho irônico o título, sendo que sou aliado do movimento das prostitutas, faço comentários nesse blog com o intuito de abrir debate, e meus comentários são quase sempre mantidos no purgatório da moderação! 🙂

    Sendo que uma obra que escrevi junto com Ana Paula da Silva é citado como fonte nesse artigo, espero que, essa vez, as moderadoras autorizam minhas contribuições.

    É encorajador ver um artigo tão lúcido sobre a prostituição aparecer nesse blog.

    Devo dizer de antemão que tenho uma formação marxista-feminista, tendo passado pela Universidade de Wisconsin, Madison, que era grande núcleo desse tipo de pensamento nos anos ’80s. Após de conhecer a crítica de Emma Goldman ao feminismo do início do século XX e suas ligações com o Estado patriarcal, mudei meu foco para anarco-feminismo, onde permaneço até hoje.

    Escrevo tudo isto para salientar um ponto na minha trajetória: conheço muitíssimo bem os escritos socialistas-feministas que muitos membros da MMM utilizam para subsidiar seus comentários sobre a prostituição e fico tremendamente abismado que, quase universalmente, estes textos são utilizados para bancar uma posição prohibicionista absolutista – algo que os autores originais nunca teriam sustendados nas atuais condições de desenvolvimento do capitalismo.

    As autoras do texto acima colocam um ponto que acho fundamental: embora concordamos que os serviços domésticos não devem ser comprados e vendidos, uma socialista verdadeira deve concordar que NENHUM serviço deve ser comprado e vendido. Dentro desse quadro, a prostituição deve aparecer como simplesmente mais uma forma de trabalho – e trabalho é algo que almejamos eliminar.

    Mas NENHUM socialista negaria os membros de uma classe à possibilidade de se organizar enquanto classe.

    Aliás, de acordo com Marx, é só através dessa organização embasada na teoria durante o capitalismo – esse práxis – que podemos criar as necessárias condições para a superação do capitalismo e a destruição do trabalho enquanto atividade forçada.

    Portanto, sob a ótica socialista, proibir as prostitutas de se organizar em prol de melhores condições de trabalho seria um “não senso” de tamanho quase heroico – o equivalente à proibição da organização dos trabalhadores de uma fábrica.

    Ahn, mas e o feminismo? A prostituição não é uma forma de opressão de gênero, criado pelo patriarcado?

    Claro que é! Como o casamento.

    E, no entanto, todos nós apoiamos a legalização do casamento gay, não é?

    Kollontai, Engels, Beauvoir, Goldman… Todos os grandes pensadores feministas do socialismo estão de acordo: o casamento é tão nocivo quanto a prostituição. Ambas estruturas são históricas, criadas pela divisão de trabalho baseada em gênero e a opressão de classe. Ambas devem ser superadas com o avanço para o socialismo.

    Mas olha só: Engels coloca uma coisa muito interessante, que as socialistas-feministas de hoje quase sempre esquecem de lembrar quando apontam para a prostituição como “escravidão”. Engels afirma que é a ESPOSA que é a verdadeira escrava, pois sua capacidade sexual-reprodutiva tem dono: seu marido. A prostituta é, de fato, mais parecida com o trabalhador, de acordo com Engels, pois ela é a dona de sua capacidade sexual-reprodutiva e aluga isto para várias pessoas, igual ao trabalhador.

    Prostituta escrava é coisa rara, apesar de toda a bafafá colocada na mídia patriarcal e capitalista. É tão rara enquanto trabalhador escravo e para as mesmas razões: a classe dominante ganha-se muito mais com o trabalho emancipado que o trabalho escravo.

    No Rio de Janeiro, nos últimos 9 anos, tenho conhecido mais de 2000 prostitutas e até agora não tenho encontrada uma única escrava. Nas minhas conversas com essas mulheres, várias temas aparecem, dos quais vou salientar alguns aqui:

    1) Quase todas já eram (ou ainda são) casadas.

    2) Quase todas começaram suas vidas reprodutivas cedo, casando cedo e tendo filhos cedo.

    3) Uma grande maioria entraram na prostituição após de uma crise conjugal que as deixaram economicamente fragilizadas.

    4) Muitas salientam o fato de ter vivido tantos anos como esposas e mães como fator contribuinte por sua péssima inserção no mercado de trabalho hoje. Como uma falou p’ra eu e Ana Paula: “Afinal das coisas, existem só duas profissões que não podem, de jeito algum, entrar em sua carteira de trabalho e seu CV: mãe e puta.”

    As prostitutas, então, entendem muitíssimo bem a ligação entre o papel de mãe/esposa e puta. Engels entendeu isto. Kollonai entendeu isto. Beauvoir entendeu isto.

    E, no entanto, boa parte das tendências ditas socialistas-feministas organizadas em torno da MMM parecem não entender esse simples fato. Se passava mais tempo falando com prostitutas de verdade, talvez esse ponto seria mais visível entre as fileiras do movimento, neh?

    Pois acho irônico quase todo mundo estar em favor da AMPLIAÇÃO de uma estrutura patriarcal – o casamento – enquanto simultaneamente acha bom proibir quaisquer medidas paliativas que poderia transformar a prostituição numa profissão menos perigosa e estigmatizada.

    Qualquer feminista-socialista que apoia o casamento gay, por exemplo, está dizendo que acha que essa instituição patriarcal pode ser reformada, mesmo que espera o dia em que ela seja superada.

    E qualquer femninista que acha que as faxineiras e empregadas domésticas devem puder se sindicalizar e regulamentar seu trabalho também está votando em favor da melhoraria de condições numa profissão que gostaria de abolir.

    Mas chega a hora das prostitutas serem tratadas como cidadãs e seres humanas, e de repente, boa parte do movimento feminista não quer ceder para elas os mesmos direitos cedidos para outros grupos oprimidos e outras minorias sexuais (pois as prostitutas são, de fato, um grupo minoritário estigmatizado em função de seus comportamentos sexuais).

    Esse atitude não tem coerência, companheiras! É através da luta para liberdades e direitos NO CAPITALISMO que nos conquistamos o socialismo. É através da organização das prostitutas, enquanto classe, que você cria as condições necessárias para a superação do trabalho sexual – igualzinho às outras categorias laborais. Dando para as prostitutas MAIS VOZ e MAIS BOAS CONDIÇÕES DE TRABALHO, você aumenta o poder delas para eliminar a escravidão e para diminuir a exploração. Desse jeito, você prepare o chão para a superação da própria prostituição, criando cidadãs conscientes de seus direitos e de sua inserção social num sistema capitalista em crise (esperamos) final.

    Dizer que você é socialista e feminista mas “não acha que o trabalho sexual deve ser regulamentada”, a meu ver, é afirmar que você ainda carrega, em se, pesados moralismos patriarcais e (pq não dizer?) pequenos burgueses – para não dizer românticos – que visem resguardar ao sexo um posicionamento “especial” nas interações humanas. É justamente essa visão, companheiras, que tem situada o trabalho reprodutivo da mulher como não sendo, de fato, o trabalho mas algo que é feito “por amor” e, portanto, sem a remuneação.

    Em capitalismo, sexo é trabalho: dentro ou fora do casamento, por prazer, obrigação, ou dinheiro. É uma atividade que reproduz as subjetividades tão necessárias para o sistema capitalista funcionar.

    Você, jovem “libertada” que se acha mulher independente e dona de seu nariz, pois pode, após de 60 horas semanais de estudo e trabalho, ir a Lapa ou a Vila Magdalena e encontrar um parceiro sexual temporário para 8 horas de distração e prazer antes de voltar ao seu labuto semanal…

    Você, mulher profissional casada, que almeja uma parceria igualitária mas, em todo ponto está bloqueada de ser considerada o igual de seu marido, pois a tarefa de cuidar do lar e de seus dois filhos é ainda considerado uma “questão de família” e é praticamente jogado a seus ombros, sem remuneração, obrigando você a completar uma jornada dupla com salário único…

    Você, lésbica, cuja sexualidade e desejos afetivos não são nem contempladas por nossa sociedade, fora o âmbito da pornografia masculinista e sexista, e que está sujeita às sanções mais violentas empregadas por uma cultura que acha mulher sem homem uma aberração…

    Todas vocês são tão “escravizadas” pelo patriarcado capitalista quanto a grande maioria das putas. E parte da gaiola que prende todos nós é a visão que internalizamos desde jovens que as prostitutas são, de alguma forma ou outra “diferentes” e “inferiores”.

    Quando você afirma que você acha que as empregadas devem puder se sindicalizar e os gays casaram mas as prostitutas não devem poder organizar seu trabalho, você está, de fato e sem querer, afirmando que no fundo, você acredita nas fabulas do amor e sexo que mantenha você, mulher, situada como cidadã secundária.

    Pois vou te contar um fato que deve ser óbvia, mas não é: entre você é uma puta, só existe uma opinião. Quase toda a sexualidade moderna e feminina era, 50 anos atrás, classificada como “coisa de puta”. Puta é VOCÊ, minha irmã, e o triste fato é que você ainda se entende, no fundo de seu coração, como uma “boa moça”.

    A Marcha das Vadias original em Canadá afirmava o direito da mulher SER VADIA e não sofrer sanções por isto. Afirmava que puta é cidadã.

    Em algum lugar do caminho, na transição para terras brasilis, essa mensagem foi deturpada para “Não sou santa, nem puta”, um refrão incoerente que vejo em quase todas as marchas feitas por aqui e que nega à determinadas classificações de mulher o direito de ser considerado como cidadã e ser humano.

    Acho que já está na hora da MMM começar um diálogo com o movimento das prostitutas, em vez de continuar sua atual política de ignorar a existência desse movimento.

    Afinal das contas, um movimento feminista que afirma ser vadia mas faz tudo para não conceder a subjetividade as vadias é uma incoerência absurda.

  4. “Todavia, ele ataca na raiz os principais problemas do atual sistema de prostituição”. Podemos parar de ler aí o comentário do Thadeus aqui em cima. O projeto do Jean só beneficia os cafetões e as casas de prostituição, não traz nenhuma melhoria de vida pras mulheres em situação de prostituição.

    Aliás, sugiro que você conheça melhor a MMM antes de falar que somos teóricas. A Marcha é um movimento social feminista e anti-capitalista de base popular, e não apenas dialogamos com mulheres em situação de prostituição, como temos algumas militando entre nós.

    • Não estou surpresa que os seus comentários começam com “Podemos parar de ler aí”, Bruna, pois um dos grandes problemas desse debate tem sido o recuso de certas pessoas a ouvir o que as principais organizações das prostitutas do Brasil afirmem sobre suas condições de trabalho e seus desejos de melhorar essas condições.

      O grande benefício do projeto de Jean Wyllys é que ele define o que é “exploração sexual” e, assim, permite que as mulheres envolvidas na prostituição podem organizar coletivas.

      O problema é isto: o atual lei brasileira contra proxenetismo define esse crime como qualquer pessoa ou organização que ganha lucros – materiais ou imateriais, direta ou indiretamente – com o labuto sexual de outrem.

      Num mundo justo, isto significaria cafetões. No Brasil atual e histórico, porém, essa lei tem sido usado para prender e criminalizar qualquer pessoa que se interage com a prostituta, incluindo…

      1) Parceir@s afetivos/sexuais (e muitas, muitas namoradas lésbicas de prostitutas tem historicamente caído nessa categoria e nessas acusações de proxenetismo).
      2) Colegas de casa.
      3) Pessoas que alugam casas e apartamentos às prostitutas.
      4) Qualquer pessoa empregada pela própria prostituta (incluindo faxineiras, taxistas, seguranças, publicistas, etc.)

      Uma característica definhadora do capitalismo é que todas as relações econômicas estão perpassadas pela troca de dinheiro. “Proxeneta”, na legislação atual, é simplesmente tudo e qualquer pessoa que se interage economicamente com uma prostituta. E, nas condições capitalistas, tudo e qualquer trabalho vai envolver a extração da mais valia do trabalhador. Isto é indiscutível e acontece com você, eu, e todo mundo. Isto não é uma especificidade do trabalho sexual: é a característica do trabalho, em se, sob capitalismo.

      O que o PL Gabriela Leite propõe é estabelecer um TETO na mais valia que pode ser extraído de qualquer situação envolvendo o labuto sexual. Assim, seria a primeira vez na história brasileira que uma lei existiria especificamente para limitar a extração da mais valia.

      A lei não forçaria ninguém a trabalhar em casas, mas permitiria o estabelecimento de lugares seguros e higiênicos para o trabalho sexual, caso que as próprias trabalhadoras querem organizar tais casas.

      As acusações de que tal lei “só beneficiaria os cafetões”, em sua base, naturalizam a ordem neo-liberal e patriarcal que atualmente condiciona o grosso do trabalho tradicionalmente entendido como “de mulher”. A extração de mais valia de tais “profissões” como empregada doméstica, faxineira, costureira, balconista, e garçonete tipicamente vai MUITO ALÉM de 50%. É exatamente essa razão que poucas pessoas que trabalham na venda do sexo deixaria essa forma de trabalho para o ofício de faixineira, costureira, ou etc. Na grande maioria, conhecem muitíssimo bem a exploração que é parte integral dessas outras formas de trabalho.

      A exploração das faxineiras e etc. é simplesmente naturalizada como função normativa da sociedade pela maioria das pessoas (geralmente oriundas das classes médias e altas, por sinal) que fazem objeções contra o trabalho sexual. E isto nem fala do casamento, onde tipicamente 100% do valor labuto da mulher é extraído sem pagamento algum. Interessante, porém, é que a Marcha Mundial das Mulheres prega a EXPANSÃO dessa instituição patriarcal e exploradora, ao mesmo tempo que denuncia a prostituição como instituição patriarcal e exploradora.

      O que eu não entendo é como uma instituição patriarcal e exploradora (o casamento) pode ser reformada mas a outra (prostituição) não pode. Ao que me parece, tem uma certa internalização de valores morais pequeno-burguesas (se não abertamente cristãs) não examinados nessa posição da Marcha.

      O intuito principal do PL Gabriela Leite (que foi escrito pelas organizações das prostitutas do Brasil e não por Jean Wyllys) é permitir o estabelecimento de lugares de labuto sexual que podem constar com condições mínimas de segurança e saúde. Isto incluiria o emprego de seguranças, camareiras, contadores e etc. Todas esses funcionários teriam que ser pagos com dinheiro advindo do labuto sexual de outrem, obviamente. O intuito da lei é indicar onde a extração de dinheiro para esses fins acaba se transformando em exploração.

      A melhor maneira de organizar essas casas seria, indiscustívelmente, a base de cooperativismo. Mas, mesmo assim, os membros das cooperativas teriam que pagar para serviços de segurança, de limpeza… teriam que pagar contas de luz, água e o aluguel da casa…. Todo o dinheiro para essas coisas teria que advir do labuto sexual dos membros do cooperativo. Como, então, garantir que a quantidade extraída pela organização (neste caso a cooperativa) não seja excessiva?

      Somente estipulando um teto nessa quantidade.

      E é exatamente isto que a Lei Gabriela Leite faria.

  5. Thaís Lapa says:

    Gente, sério que as pessoas vão sustentar que pelo fato de haver na instituição monogâmica/casamento relações de opressão patriarcal isso torna a atividade da prostituição algo que traz liberdade para a mulher? Ela tem “mais poder de escolha” que a casada porque cede seu corpo ao uso de vários homens em troca de dinheiro (essa história de aluga é demais!) ao invés de um e sem remuneração? Eu acho isso bem problemático. Fora isso, tem algo que muito me incomoda neste debate, que é a exaltação do discurso como único elemento que produz a realidade: esta questão de ouvir as prostitutas é sim importante e uma parte fundamental da compreensão do que é a prostituição. Mas isso não significa que todas elas tenham clareza que estão imersas em relações de exploração e opressão, e o fato de elas não terem essa clareza não significa que a opressão e exploração não existam. Já que querem equiparar as prostitutas aos/às trabalhadores/as em geral (o que acho equivocado), cedo a uma comparação: se os/as trabalhadores/as, mesmo sendo explorados/as, cedem à cooptação das empresas pois elas os fazem sentir “crescendo na vida” e “que é importante vestir a camisa da empresa porque todos se beneficiam com isso, empresa e trabalhador”, o seu modo de pensar não muda certas relações de trabalho que são objetivas – uma vez que extração de mais valia e produção de lucro sobre seu trabalho permanecem, mesmo que não “se dêem conta” disso. Assim, se uma prostituta declara não se sentir explorada, sente que prefere ser prostituta do que manter-se na conjugalidade monogâmica, a questão é problematizar ambas, a condição a qual as mulheres são submetidas dentro dos casamentos e também na prostituição, e não “glamurizar” a prostituição! Se elas “preferem” ser prostitutas porque assim ganham melhor (por vezes omitindo as relações de violência e humilhação às quais se sujeitam, por sua própria autopreservação), cadê o questionamento sobre o porquê de ganharem tão menos se realizarem outros trabalhos? Cadê a discussão sobre oportunidades de trabalho mais amplas e melhor remuneradas para as mulheres? Estímulo, formação e educação para que estejam em todas as carreiras? O que faz com que a prostituição seja vista como opção, não é justamente falta de outras alternativas melhores? Ou alguém cria as filhas prioritariamente para essa “carreira” pois é a melhor profissão que se pode ter? Creio que precisamos discutir trabalho feminino e alternativas para autonomia econômica das mulheres de uma forma muito mais ampla quando falamos de prostituição, pois entendo que isso não se trata de direito à escolha, mas de recurso a esta atividade por falta de escolha [entenda-se: não falo de escolha individual – a mulher pode se sentir “optando” pela prostituição, falo de escolha dentro das possibilidades apresentadas em nossa sociedade, algo que evidentemente restringe a margem de escolha].

    • Excelente resposta. Segundo pesquisas a idade média que uma mulher entra na prostituição é 13/14 anos e a as causas foram incesto, violências físicas, abuso sexual e pobreza.

    • Nenhuma pessoa está argumentando aqui que a prostituição seja algo que é necessariamente libertadora, Thais (embora algumas prostitutas que conheço afirmam isto).

      Aliás, a meu ver, o trabalho é necessariamente algo não libertador.

      Mas vários pensadores socialistas-feministas (incluisive Simone de Beauvoir e Frederich Engels) têm afirmado que, QUANDO COMPARADO COM O CASAMENTO, a prostituição pode ser vivida como uma certa libertação, sim.

      Pq?

      Da mesma maneira que um trabalhador é relativamente liberado em comparação com o escravo.

      A esposa não ganha nada para seu labuto afetivo/sexual. Ela é escrava plena. Seu trabalho é apropriado pela unidade familiar, sem pagamento algum. A prostituta aluga seu trabalho afetivo/sexual (e não aluga seu corpo, como você afirma) e ganha por isto. Ela é, então, uma TRABALHADORA. O próprio Engels afirma isto.

      Isto não é uma liberação absoluta, de jeito algum, pois como todos sabemos, trabalhador também não é livre. Mas é considerávelmente melhor GANHAR que NÃO GANHAR para seu trabalho num sistema capitalista. É uma melhoria sensível, SIM.

      E concordo com você: devemos problematizar essas relações, sempre.

      Mas meu problema é que seu absolutismo parece negar qualquer luta para melhorarias nas condições dos trabalhadores AQUI E AGORA.

      De acordo com sua lógica, toda e qualquer ato coletivo de trabalhadores em função de salários melhores ou condições de trabalho mais justos é paliativo. Seguindo sua lógica, sindicatos não devem existir. Segundo sua lógica, aparentemente as pessoas simplesmente devem para de trabalhar até que conseguem trabalhos justos e dignos que refletem a sua plena conscientização política/afetiva/sexual etc.

      O problema principal com essa posição que você está articulando é que as pessoas vivem NESTE mundo, NESTA situação capitalista. Elas não vivem na Terra de Nunca Utópica do Mundo Após da Grande Revolução Socialista-Feminista-Queer. As pessoas têm que trabalhar para pagar alugueis, fazer feira, educar suas crianças.

      Nada disto é feito com “análise” ou “questionamento”, Thais: é feito com dinheiro.

      A solução para o problema de despolitização que você levanta, em todas as outras categorias profissionais existentes, mesma as mais humildes, é a ORGANIZAÇÃO CONSCIANETE DE CLASSE. Ou seja, você reconhece que as pessoas precisam trabalhar e você organiza essas pessoas em coletividades capazes de lutar para seus direitos e dignidade. Através disto, criamos uma sociedade cada vez mais justa e cada vez mais inclusiva. É assim que têm funcionado no passado e essa é a razão que você e eu podemos ficar aqui, discutindo isto.

      E só organizando os trabalhadores enquanto categorias que você pode criar as condições em que esses grupos se auto-refletem sobre suas condições e podem lutar por um futuro mais digna.

      Porque você quer negar essa possibilidade para as trabalhadoras do sexo?

      Para com as discussões sobre como criar mais autonomia econômica para as mulheres, estamos de acordo: isto tem que acontecer.

      Mas enquanto isto não acontece, Thais, porque você negaria a uma mulher trabalhando no sexo, como minha amiga Fernanda, de 55 anos, a possibilidade de melhorar suas condições atuais de trabalho? Qual solução você daria para Fernanda, que mal sabe ler e escrever e que é costureira aposentada e prostituta na Praça Tiradentes?

      Qual é a “alternativa econômica” que você pode vislumbrar para ela? Atualmente, ela ganha por volta de 2000 reais mensais na prostituição. Qual trabalho que você pode dar para ela AMANHA (e não após da sua revolução de consciência coletiva) que pode permitir ela a largar a prostituição?

      E se você não tem uma solução imediata para as Fernandas desse Brasil, você não acha que, minimamente, elas devem puder trabalhar em paz, sem medo de assédio da polícia, de maniáco ou – pior – de “bons cidadãos” que acham que a prostituição é “pouca vergonha”? Você não acha que merecem nosso apoio e não devem ser classificadas de “ignorantes”, “doentes”, ou qualquer outro sinônimo mais politicamente correta que você pode criar para indicar que elas não são tão seres humanos e cidadãs quanto você ou eu?

      Finalmente, ninguém cria filhas para a prostituição, neh? Mas ninguém cria filhas para serem ascensoristas, faixineiras, caixistas de supermercado, balconistas de fast food… Todos serviços que a sociedade usa diariamente. Ninguém cria filhas para serem trabalhadoras nas fábricas onde construiram os componentes do computador que você usa, fábricas tão sinistras que seus donos precisam pendurar redes fora das janelas para que as funcionárias não se suicidam…

      NINGUÉM cria sua filha para trabalhar em nenhuma das categorias abjetas da economia neo-liberal, cujos serviços você e eu usam todos os dias.

      A solução para o capitalismo é a organização dos trabalhadores em suas próprias associações políticas de luta econômica. Todos sabemos isto ou devemos saber.

      Porque, então, que você quer proibir a organização das prostitutas?

  6. Há 10/20 anos atrás pessoas na Austrália, Alemanha, Nova Zelândia e Holanda escreveram textos defendendo a legalização da prostituição como a solução (sic) para a exploração sexual das prostitutas e HOJE todos os países enfrentam graves problemas com o aumento do tráfico de seres humanos (mulheres, crianças e adolescentes) para exploração sexual e criou-se 2 classes de prostitutas as legais e as ilegais.
    Legalizar a prostituição não deu certo em nenhum país, mas vamos ignorar a experiência deles e vamos seguir na tentativa de tornar a prostituição legalizada.
    Aqui a prostituição não é crime e como já disse antes, as prostitutas tem direito ao SUS como qualquer cidadão e podem pagar previdência como autônomas.
    Legalizar a prostituição só beneficia o cafetão, o dono dos bordéis, os traficantes e o cliente. Cliente esse, que fica invisível nas discussões sobre a prostituição e sua legalização, ELE que é o maior beneficiário poderá continuar comprando _ ou alugar órgãos internos por alguns minutos, como definiram numa pesquisa os entrevistados _ a autorização para o abuso sexual com mais conforto e tranquilidade. Com o pretexto de estarmos amparando as prostitutas, estamos na verdade facilitando a vida de TODOS os que exploram as mulheres nessa atividade. E o homem/cliente causa e gerador da prostituição e do tráfico de seres humanos para exploração sexual segue tranquilo e impune.
    Pensar no modelo sueco nem pensar, vamos seguir tapando o sol com a peneira e deixando as causas sociais, culturais e econômicas da prostituição intactas.
    Estão se aproximando grandes eventos esportivos e os homens enxergam na legalização uma oportunidade ótima de negócios pois turistas poderão ser recebidos em bordéis legalizados e o governo poderá cobrar impostos sobre a exploração sexual de mulheres.
    Prostituição de menores preocupa autoridades de Amsterdã
    http://www.dw.de/prostitui%C3%A7%C3%A3o-de-menores-preocupa-autoridades-de-amsterd%C3%A3/a-6154860
    The Legalisation of Prostitution : A failed social experiment
    http://sisyphe.org/article.php3?id_article=697
    Relatório revela aumento da prostituição forçada na Alemanha
    http://www.dw.de/relatório-revela-aumento-da-prostituição-forçada-na-alemanha/a-5600693

    • Da mesma maneira, o proibicionismo e abolicionismo não deu certo em nenhum país, Rosa.

      Conheço muitíssimo bem a Holanda e os EUA e – com todos os problemas que a Holanda têm – seu sistema ainda é infinitamente melhor que o sistema americano.

      Todos os países abolicionistas e proibicionistas também estão com os mesmos problemas de tráfico e de exploração sexual de menores. TODOS. É mais que óbvio, então, que as políticas referente à prostituição que os países adotam não têm efeitos grandes sobre esses problemas.

      E é óbvio porque isto é o caso: a prostituição não é a mesma coisa que tráfico ou exploração sexual de crianças.

      Nota-se também, naqueles links que você postou, que “estudos mostram que mais da metade das mulheres que trabalham em De Wallen – o famoso Red Light District – não estão lá por livre vontade.” Todavia, não tem link algum para esses “estudos”, onde podemos confirmar quem os fizeram, qual metodologia foi utilizada e qual foram as respostas.

      Se esses estudos são tão bons e tão notórios… uê, porque não apresentá-los? Dizer que “um estudo foi feito” não quer dizer nada. Cristões evangélicos vivem produzindo “estudos” que demonstram que a homossexualidade é uma doença, por exemplo.

      Sugiro o seguinte link que discute muito bem qual tem o efeito de proibicionismo nos EUA. 60,000 mulheres e homens são presos naquele país todos os anos para a prostituição e os problemas de tráfico e exploração sexual continuam grandes.

      http://www.policeprostitutionandpolitics.com/index.php?option=com_content&view=article&id=116:facts-at-your-fingertips&catid=31:general&Itemid=46

    • pois é…só me pergunto se vai melhorar alguma coisa,numa sociedade que já nos mercantiliza ao máximo,dar carta branca para os homens poderem ter acesso á leilões de meninas virgnes de 11 anos,transar com menores de idade…preferem legaçlizar nossa degradação do que lutar para melhores significativas.E nem reparem que o único lugar que vi um homem comentando tanto é aqui nessa postagem..por que será??

  7. interessante na biblia fala a todo momento da mulher adultera que deveria ser apedrejada ate a morte…….ai eu aqui com meus botoes me pergunto: e o homem que fazia sexo com ela qual a punicao???ainda nao encontrei a resposta!!!alguem ai tem???outro questionamento ….a mulher casada que trai é denominada de adultera.sim! e o homem casado que trai sua esposa, as vezes abertamente e em publico,e denomidado de que mesmo?????ahhh esses meius questionamentos!!abracos

    • E a solução, de acordo com você Neide, seria então o apedrejamento dos dois?

      Lutamos para a DES-ESTIGMATIZAÇÃO das prostitutas. Não pela expansão da estigmatização e a criminalização.

      Fala séria, irmã: moramos no Brasil, país cujo estado e forças de segurança conhecemos muitíssimo bem. Você acha que a criminalização da prostituição – o “apedrejamento dos homens” – vai resolver o que? A criminalização das drogas resolveu alguma coisa? Fez este país ser mais justo?

      A criminalização dos clientes funcionará da seguinte maneira no Brasil (como já funciona nos EUA):

      A prostituição nas classes mais baixas viraria alvo predileto da polícia, que cairia por cima dela sempre que quer demonstrar para as classes mais abastadas que está “lutando contra o crime”. Algumas das mulheres encontradas na prostituição seriam medicalizadas como “vítimas” e registradas pela polícia como prostitutas, quem sabe para serem forçadamente reclusas em “instituições de recuperação”. Outras seriam acusadas de serem “cafetinas” ou “exploradoras”. A polícia usariam a ameaça de criminalização como “cafetina” para forçar algumas das mulheres a depor contra as outras.

      Enquanto isto, os homens – incluindo as seguranças, barmen, taxistas, e provavelmente os maridos/ namorados das prostitutas que teriam o azar de estar na zona quando o blitz aconteceu – seriam sem dúvida criminalizados. Pobres e negros em sua maioria, esses homens seriam jogados na máquina de tritura de gente que é o sistema jurídico brasileiro. Uns, que simplesmente estavam passeando por aí no momento do blitz, poderiam ficar presos por meses – quem sabe anos – antes de ser descoberto o erro jurídico que os coloco na cadeia (se é que isto é descoberto). Outros provavelmente seriam mortos na hora e classificados como “bandidos” pela mídia.

      Enquanto isto, uma série de prostituições disfarçadas continuaria a funcionar para as classes mais altas (exatamente como acontece hoje nos EUA). O branco rico não teria problema algum em encontrar “acompanhantes” e “namoradas” e outras parceiras pagas. Como o uso da cocaína na Viera Souto, a prostituição para essa classe seria completamente escondida… e nenhuma pessoa abusada por esse sistema iria puder reclamar seus direitos sem correr o risco de ser rotulada como “criminosa” pelos poderosos que paguem os salários da polícia que faz a blitz das zonas da classe baixa.

      A meu ver, qualquer um que quer criminalizar a prostituição no Brasil – seja de clientes ou de trabalhadores sexuais – é, minimamente um ingênuo que não sabe como funciona o atual sistema de “justiça” desse país.

      Mas para as pessoas que se dizem “feministas”, achar que essa solução “americana” cabe no Brasil é, a meu ver, um sandice que borda a insanidade.

      A nossa polícia nem sabe encontrar Amarildo e você quer elas na rua, prendendo cliente de prostituta, é?

      Ahn, ’tá…

      E onde é que você acham que vivemos? Num mundo pós-capitalista, onde a polícia, o Estado e as agências de intervenção social funcionam para proteger os direitos dos pobres e oprimidos?

      Basta olhar para a história da prostituição no Brasil: naqueles momentos em que foi reprimido, a tortura, aprisionamento e medicalização forçada das prostitutas aumentou EM TODA INSTÂNCIA.

      É essa uma das minhas perguntas para abolicionistas que se dizem feministas: se o Estado é patriarcal, racista e injusta, com uma história de tratar mulheres como propriedade, como é que a criminalização da prostituição, entregando a esse Estado o direito de determinar quem é e não é puta (e puní-las ou nseus clientes como quiser), vai gerar a justiça social?

      • Falou,falou e não disse nada.Justiça social é gerada quando nós mulheres deixamos de nos cer como mercadorias sxeuais.O amigo já se perguntou porque a prostituição nunca é uma escolha para os homens?? Vc está defendendo é o seu direito de ter mulheres a seu dispor para sexo,e não os direitos humanos de nenhuma mulher da face da Terra,porque vc vem com a falácia de que “apedrejar os homens”,ou seja,condenar o cliente ( sempre esquecido nos debates,não é mesmo feministas?) que cria a demanda para que exista prostitução é flácia.Então qual é asolução amigo? seguimos sendo prostitutas? è inerente em nós mulheres sermos buracos para homem meter? Nad do qwue vc escreveu é novo para mim,é amesm babaquice machista disimulada de sempre de colocar aculpa de uma exploraçõ sofrida por nós em nossas costas! Isso vale para as mulheres da sua família,amigo? vai incentivar alguma a ser prostituta??

        E espero que as feministas aqui tenham o bom sendo de notar que os ÚNICOS BENEFICIADOS COM LEGALIZAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO SÃO OS HOMENS,como esse sujeito aqui insinua dissimuladamente.

  8. Não vejo porque uma pessoa não possa gostar de trabalhar com sexo. Num mundo ideal todas as pessoas estariam no emprego dos seus sonhos e o trabalho sempre seria diversão Devemos fazer de tudo para que as coisas sejam assim. Mas uma prostituta que trabalha pelo dinheiro é mais infeliz do que uma advogada que trabalha apenas pelo dinheiro?

  9. Nossa agora que vi que o Thaddeus me tirou de burguesinha ainda! Como se eu não fosse militante pela mulheres reais, de agora, e como se eu mesma não fosse desde os 17 anos uma trabalhadora, o que faz com que eu me sinta inclusive bem à vontade de falar também em primeira pessoa, e não somente em terceira. Afinal, eu estudo e também tomo parte da realidade, mas é engraçado que quando a gente se coloca, coloca o posicionamento politicamente, não rebatem nossos argumentos, mas nós mesmas. Nossa, não posso falar que as prostitutas precisam de alternativa econômica, porque eu não estou me preocupando com o que elas precisam amanhã! Gente, credo, eu não sou nem um pouco afeita a ser comentadora em textos de blog por causa disso, é mais distorção do que construção. Mas que fique claro, pensar em transformação na vida das mulheres tem que evidentemente envolver o que elas necessitam agora e o que elas necessitam no futuro próximo, no futuro distante. Todas as instâncias. Pensar em políticas públicas e em melhora no mercado de trabalho para as mulheres é uma reivindicação de ontem, hoje e amanhã. Ter uma visão de projeto de transformação social concreta, para as mulheres e para a humanidade, faz com que a gente não se atenha nem só no imediato, nem só no amanhã, mas em ambos. Mas você, sem me conhecer, me trata como se eu fosse do tipo que tem devaneios sobre o futuro sem ter os pés no chão. Eu fico muito feliz que cada vez haja menos empregadas domésticas, que as mais jovens, filhas de empregadas, tenham cada vez conseguido outras formas de emprego que não precisem ser este. Mas isso não quer dizer que trabalhar como operadora de telemarketing é excelente, nem como operária de fábrica. Não é excelente, mas é mais reconhecido como trabalho, permite que elas saiam do ambiente doméstico, se socializem com outros/as trabalhadores/as e, quem sabe, se organizem junto a eles. E sabe qual é a diferença? Mesmo que as prostitutas possam se organizar (o que é importante, necessário e indiscutível), e conquistem direitos que garantam sua atividade com maior proteção e segurança, isso é o necessário para o hoje. Porém, progressivamente, e se formos vitoriosos/as nas lutas pela autonomia econômica das mulheres por meio de oportunidades de trabalho mais justas, penso que a prostituição teria que progressivamente ir deixando de ser “alternativa”. Ela, diferente dos demais trabalhos realizados na sociedade capitalista e por ela mercantilizados, é uma relação mercantilizada que precisa perecer como um todo se desejarmos construir uma sociedade livre de opressões e explorações. No capitalismo pode-se falar de prostituição menos indigna e insegura para a mulher (com mais direitos, menos estigmatização), e ok, sou a favor, e estarei empunhando as bandeiras que contribuírem para isso (o que não é o caso do projeto do Jean Willys) mas enquanto projeto de sociedade, o que penso é que ela simplesmente não deveria existir. Diferente dos demais trabalhos – inclusive os precários, instáveis, subemprego, enfim, os piores empregos que são onde as mulheres predominam – pois falando deles falamos de trabalhos nos quais é possível, em uma sociedade futura, que aquelas relações de trabalho sejam construídas de forma a superar a exploração e manter a finalidade do trabalho – a satisfação daquelas necessidades humanas do que hoje chamamos de produtos e serviços. A prostituição por seu lado é fundamentalmente um mecanismo do patriarcado de servidão das mulheres enquanto grupo social às necessidades sexuais masculinas, e não há mecanismo regulador de direitos, e nem mesmo a superação da sociedade capitalista, que extirpe isso dessa relação. Sendo bem clara, sustento que não dá pra pensar em prostituição em uma sociedade socialista, eu entendo que isso é bem óbvio inclusive. Isso não significa que esses direitos das prostitutas não devam ser pleiteados hoje – das prostitutas, não dos cafetões – mas sim que existe um todo mais complexo nesse tema, que é o de pensar o caminho de entrada das mulheres à prostituição, e também o da saída. Sou contra a visão bipolarizada de “pensar/agir só pelo amanhã” ou “pensar/agir só pelo hoje”, entendo que os dois devem acontecer de forma concomitante.

  10. Cara,quanta ignorância junto…como essas feministas alegam nos defender sendo que são a favor de sermos reduzidas é mercadorias para consumo masculino?Como querem combater atal cultura do estupro se o homem pode livremente nos reduzir á corpos
    abusáveis? Então o lance é lagalizar,não mudar a maneira como a sociedade trata a sexualidade feminina? E quanto discurso rebuscado para defender nossa exploração sxeual;….as senhoritas sabiam que em nenhum páis a legalização da prostituição deu certo? Só piorou o quadro de violência contra todas as mulheres?? Vocês nos defendem mesmo ou querem crair um paraíso para tarados,incluindo o turista sexual??

    E me digam,sábias senhoras,a maioria das pessoas traficadas são de que sexo? e para que são traficadas?

    Só não encherga quem não quer…e depois vem o mimimi cultura do estupro,sendo que vcs mesmas a alimentam!

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  1. […] Por  Thais Ferreira, Layza Queiroz e Maitê Maronhas*, em Marcha Mundial das Mulheres […]

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