Por Maria Júlia*
Ultimamente, vêm pipocando textos pela internet (e alguns fora dela) que falam sobre um tal de novo feminismo, sobre funk feminista, Valesca Popozuda, pussy power, entre outros temas. E é sobre isso que será o texto. Mais especificamente, sobre a ideologia liberal que vem cooptando boa parte dos movimentos, coletivos e organizações feministas que estão por aí.
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que essa não é uma idéia nova – apesar de estar ganhando bastante destaque na mídia agora. Na verdade, essa idéia surge principalmente durante a “revolução sexual” nos anos 70, e vai tomando cada vez mais corpo, até chegarmos ao que temos hoje – representações de fetiches masculinos (e machistas) sendo utilizadas como modelo de libertação feminina.
São muitos os exemplos que podemos citar. O primeiro, suponho que já tenham adivinhado, será Valesca Popozuda.
Para alguns setores do movimento feminista, Valesca Popozuda representa a moderna libertação feminina, em que a mulher afirma e reafirma seu desejo sexual sem medo de ser feliz. Entre as músicas dessa grande feminista está “Fiel é o caralho”:
Fiél é o caralho, vc é empregadinha!
Lava, passa e cozinha mas a pica dele é minha!!!
Lava, passa e cozinha mas a pica dele é minha!!!
Isso não me soa muito feminista. Será que é loucura minha? Ela está zombando da mulher que fica em casa enquanto o homem exerce seu “direito natural” à poligamia. Além dessa, as músicas “Mulher Marmita” e “Mama” também falam coisas semelhantes, sobre a mulher que fica em casa enquanto o marido vai farrear com outras..
Agora, vamos para o segundo exemplo: Suelen, da novela “Avenida Brasil”.
Aqui nesta notícia do uol, afirma-se que “Periguete ou piriguete é um termo que nasceu para apontar de forma pejorativa a mulher independente sexualmente, que se veste de forma provocativa e, em geral, está atrás de homens endinheirados”
Mais pra frente, o texto diz:
“‘É a antiga destruidora de lares agora personificada em atitude e roupas, a inimiga da regra entre amigas mulheres que diz que namorado de amiga minha é mulher. Esta personagem agora ganha contornos e características. No fim, é uma forma de controle’.”
Seria legal se piriguete realmente descrevesse a mulher que é livre sexualmente, e que toma iniciativas. Mas, segundo esse texto, só é mulher que toma iniciativa aquela que se sexualiza ao máximo de acordo com os padrões machistas: uma mulher que exibe o corpo, suas curvas, de maneira altamente sensual, e que é “inimiga da regra entre amigas mulheres que diz que namorado de amiga minha é mulher”. A mulher independente sexualmente é aquela que não liga se vai fazer uma amiga de trouxa? E, claro, aquela que corre atrás de homens endinheirados. Hum?
Antes que digam: não se trata de colocar na fogueira mulheres que se “sensualizam”, elas que façam o que quiserem de suas vidas. Mas, curiosamente, uma mulher live é sempre colocada como alguém que veste pouca roupa e que, curiosamente, atende a todos os padrões de beleza machistas. Mulheres que usam calça de moletom não são sexualmente livres e nem tomam iniciativas?
Ainda, não se trata de uma defesa da monogamia. Acontece que, tanto esse modelo de “piriguete” representado pela Suelen quanto a Valesca Popozuda não defendem uma real libertação sexual. Ao contrário: reforçam a divisão das mulheres entre “santas” e “putas”, com a diferença de que agora a “puta” é tida como uma mulher livre. Só que ela não deixa de ser um modelo estabelecido pelo patriarcado; ou seja, tanto Suelen como Valesca estão completamente dentro da ordem que nos subordina – são uma reafirmação do status quo, e não uma transgressão. E enquanto isso, os homens têm as mulheres que querem, sem precisar ser “putos”, muito menos santos, só homens.
E esses não são os únicos exemplos. A música pop, por exemplo, está repleta de mulheres inssaciáveis, que topam tudo a toda hora:
Nesta música, Britney está “intoxicada” por um homem e precisa dele desesperadamente. E, como não podia deixar de ser, o clipe repete um dos clichês mais antigos sobre mulheres: a aeromoça sexy.
Aqui, Christina Aguilera dança em um ringue para uma platéia de homens. Uma mulher durona, para deleite masculino.
Não coincidentemente, esse modelo da mulher inssaciável é o modelo estabelecido pela pornografia, supostamente concretizado na prostituição (supostamente porque as prostitutas são mulheres que estão a serviço dos homens, mas cuja realidade não é tão glamurosa como a dos modelos citados) – o tal pussy power..
Como disse antes, essa não é uma idéia nova. Mas é trazida de tempos em tempos com mais força pela mídia – um dos principais meios através do qual se realiza o backlash contra as feministas. Para barrar conquistas e neutralizar nosso discurso, propagandeia-se um outro, com apelo na sociedade e de fácil degustação: para libertar-se basta afirmar-se enquanto livre. Não é preciso romper com nenhum padrão, pois atendendo ao que já está aí é o bastante. E para isso, basta procurar ter a maior quantidade de prazer sexual possível.
Esse discurso, além de pregar uma liberdade individual – que ignora a organização coletiva, pois a liberdade depende somente do meu querer -, é o mesmo discurso que está por trás da regulamentação da prostituição: se as mulheres são livres para fazer o que bem quiserem com seu corpo, isso significa que a prostituição é uma escolha, certo? De acordo com esse raciocínio, sim. O que está acontecendo é a preparação do terreno para a aprovação da regulamentação da prostituição – não à toa aparecem também notícias de universitárias que “se prostituem porque querem”.
Essa discussão diz respeito a todas nós, mulheres. A prostituição só é vista como um “trabalho qualquer” porque nós temos poucas experiências em que exercemos nossa sexualidade de forma autônoma. Dessa forma, nos parece “normal” que uma mulher venda sexo. Naturalizar essa relação é naturalizar o acesso livre dos homens ao nosso corpo.
A sexualidade como uma construção social e histórica
Quando nós, feministas socialistas, trazemos o nosso debate sobre sexualidade e nossas críticas a esse novo modelo imposto, frequentemente somos chamadas de moralistas, e de “polícia do tesão”, coisas do tipo. Esse tipo de “argumento” mostra uma naturalização da sexualidade. Naturalizar as coisas é o primeiro passo para não questioná-las – e, então, não mudá-las. A sexualidade humana é, assim como o conjunto das relações que estabelecemos, social, história, construída. Não podemos falar que somos seres históricos, que tudo em nós é construído socialmente, menos a sexualidade – como se ela ainda se mantivesse “pura”, dentro daquilo que é “natural”.
Nesse sentido, nos colocamos contra esse feminismo (ou suposto feminismo) que traz consigo a ideologia capitalista e neoliberal da free choice. Estamos aqui para criticar o caráter machista dessa nova norma sexual, e afirmar que não há liberdade dentro dos modelos patriarcais de sexualidade. A mera ressignificação de determinados modelos não nos garante a emancipação pois não se trata de algo meramente cultural, mas de algo que tem raízes materiais.
Com isso, não queremos “caçar a carteirinha feminista” de ninguém – como algumas adoram dizer ao serem criticadas. Queremos estabelecer o debate, e afirmar um feminismo transformador, que pensa uma mudança radical da sociedade, e não um feminismo liberal burguês que constrói sua agenda somente em função das mulheres de classe média. “ ‘nuestro feminismo’ reconhece-se no feminismo descolonizado, que ‘se pensa e repensa a si mesmo na necessidade de construir uma prática política que considere a imbricação dos sistemas de dominação sexista, racial, heterossexista e capitalista, por considerar que esta matriz de dominação é o que outorga ao feminismo uma visão radical’(Curiel, 2009: 71)”.
*Maria Júlia é militante da MMM de São Paulo
“Segundo as novas normas sexuais, sexo é bom, moderno e transgressor, é anti-sistema”.
Olha, não sei o que achar do texto mas a reflexão é interessante. No entanto, não entendi o motivo do “novas normas sexuais”. Eu achei que a libertação sexual a que as “outras feministas” se referem dizem respeito a isso mesmo: liberdade pra se fazer quanto sexo se quer -sem ser chamada de vagabunda por isso- OU NÃO. Não vejo essas mulheres dizendo que fazer muito sexo é legal, só que isso não te transforma numa pessoa sem valor. Fazer sexo nenhum também não te tranforma numa pessoa sem valor, ou seja: seu caráter não pode de forma alguma ser definido através da sua conduta sexual. Só isso.
Muito bom, Maria Júlia! Importantes a crítica a partir de elementos tão atuais. Questionar e desnaturalizar é preciso!
Oi, Fabiana!
Então, a questão dessa libertação sexual é que acaba sendo criada uma nova norma, que não questiona o papel da mulher na sociedade. Pode não ser “direto”, mas acaba por ser isso – quando, por exemplo, algumas feministas exaltam a valesca popozuda como um ícone do feminismo. Mas, será que ela é mesmo? Ela exata essa questão do sexo, mas é majoritariamente a serviço do homem, e sempre no papel da “outra”.
Uma revolução sexual realmente emancipadora deve libertar as mulheres de seus papéis, e não reforçá-los.
Mas, vamos nos falando. Um abraço, e obrigada pelo comentário!
Sarah, de fato, essa é uma discussão que precisa ser feita ,e que, apesar do acúmulo histórico e teórico que muitos movimentos têm, essa é uma discussão que ainda tem muito pano pra manga… beijos! e obrigada 🙂
A Valesca Popozuda é feminista porque fala sobre a mulher como detentora do próprio prazer. Assim como o garanhão que não se importa em pegar mulher casada, ela diz a mesma coisa ao inverso, colocando a mulher no centro da história, como dona do próprio prazer e das próprias decisões, principalmente dentro do cenário do funk.
Na maioria absoluta das vezes as letras dela não são submissas ao homem, mas ao contrário, ela utiliza o homem como objeto para o próprio prazer ou objetivo, assim como nas letras masculinas machistas de funk.
Construir esta divisão entre “santas” e “putas” como você escreveu é extremamente machista, pois a mulher tem o direito de se expressar sexualmente como quiser, assim como o homem. Porque ela canta e dança funk e gosta (se é que é verdade, e não apenas uma personagem) de pegar vários homens ela é puta ? E o homem que pega várias mulheres ? O que é ?
Dizer que uma mulher é puta, é uma postura extremamente machista! Uma mulher que pega vários homens é puta ? Pelo que eu saiba ela está no direito dela de fazer o que quiser com a própria vida e o próprio corpo.
Puta, é quem vende o corpo para fazer “serviços sexuais”. E se ela for puta ? Qual o problema ?
O que é importante nestes casos é dar conhecimento para que a mulher entenda sua posição social, sexual e econômica para que então ela possa tomar a decisão de sair ou não da prostituição. Se a mídia distorce a história e coloca a Valesca como “puta”, como dizem, é outra história.
Em resumo, pode não ser o perfil de música ou letras que vocês gostem, mas falar que ela é submissa ao homem, acho que vocês não estão prestando atenção às letras. Quem é machista, são as mulheres fruta, vide: melancia, mamão, maçã, e outras.
Felipe,
talvez haja alguns pontos do texto aos quais você precise voltar e prestar mais atenção:
1) em primeiro lugar, não falei que a Valesca Popozuda não se coloca como ‘detendora do próprio prazer’. Falei que a postura sexual dela é uma postura que está a serviço dos homens (e, para dar a desculpa que “tudo bem”, falam que “ela quer”).
2) Em segundo lugar, não adianta nada afirmar-se enquanto independente sexualmente e zombar de uma mulher que está em casa sendo traída. Isso sim é machismo, e não feminismo.
3) Não me parece que a objetificação dos homens seja a saída para a igualdade. Isso é uma falsa saída, e usada para não questionarmos a posição da mulher na sociedade. É sempre assim: se a mulher é objetificada, então vamos objetificar os homens também. Que ótimo, só que não. E em outra várias letras ela diz que vai fazer o que o homem quer (e não o que ela quer).
4) Não sou eu quem faz a divisão entre santas e putas, é a sociedade, e a própria valesca popozuda em suas letras. Você leu os primeiros parágrafos do texto? Já ouviu a música sobre fidelidade que postei? E, note que o “puta” está entre aspas, porque significa um papel, e não necessariamente que a mulher é “profissional do sexo”. Em espanhol, por exemplo, se diz “meninas boas” e “meninas más”, no lugar de santas e putas. Portanto, não misture as coisas.
No mais, com relação à prostituição, há vários textos aqui que expõem nossa posição sobre o tema.
E, se você acha que as mulheres fruta são machistas, veja bem, não há muita diferença entre elas e a Valesca Popozuda.
um abraço
Colocar a mulher que usa roupa curta e assume a sua sexualidade como uma nova norma opressora é uma tremenda inversão dos papeis. Essa imagem de mulher livre à qual você se refere não existe: essa é a mulher que é constantemente constrangida por querer se afirmar como dona do próprio corpo. Enquanto se rotula esse devir mulher como um novo machismo, essas mulheres sofrem vários abusos: são as “putas”, as “vadias”. É exatamente esse contexto que reforça essa categorização absurda entre “santas” e “putas”, não a postura dessas mulheres. Quanto a saída que algumas mulheres escolhem, não é como se devessem seguir alguma doutrina. A Valesca, num meio extremamente machista, consegue se impor, não se recolhe. Isso tudo pode ajudar outras mulheres a se reconhecerem como livres pra expressar essa sexualidade. Sobre a traição, já se torna um debate sobre monogamia. A Valesca não tem um código de conduta amiga a seguir e ainda assim pode se afirmar feminista (sororidade é balela).
O ome explicanista chegou, parem as maquinas!
Maria Julia,
È interessante sua critica ao feminismo liberal, pois pela sua natureza acaba penetrando em setores feministas da esquerda. O que algumas feministas e simpatizantes não entendem é que a libertação da mulher não se dará pelos mecanismos de exposição de seu corpo e vontades sexuais.
oi, jaqueline!
Acho que é uma crítica que precisamos fazer, não só para discutir ideologicamente com esses setores, mas também para atentar a isso que você falou: muitos setores de esquerda vem reivindicando o feminismo liberal, sendo cooptados, e vão acabar é ajudando o machismo nessa brincadeira toda.. a esquerda precisa fazer urgentemente uma reflexão profunda sobre sexualidade, liberdade sexual e, também a prostituição, porque diz respeito à sexualidade das mulheres (por isso tb o debate da prostituição é muito mais amplo do que regulamentar ou não regulamentar e diz respeito a todas as mulheres)
abraço!
A tão querida libertação da mulher pode não se dar por esses meios, mas não será plena enquanto uma mulher for constrangida e agredida por expor seu corpo e sua sexualidade.
Excelente texto. =)
Quando, pela primeira vez, ouvi falar sobre Valesca no “contexto feminista”, fui atrás da letras para tomar conhecimento do conteúdo e formar a minha opinião do lance todo. Esses versos que você transcreveu foram o da primeira letra que li. Minha impressão foi a mesma que a sua.
O feminismo foi apropriado pela cultura de massa e transformado numa caricatura grotesca. Eles enxergaram, na bandeira da liberdade sexual, um mercado e tem vendido uma ideia de autonomia sexual totalmente distorcida, para as garotas e mulheres. A lógica que impera na nossa sociedade é a de que a liberdade sexual feminina é a liberdade de ser “sexy” para o mercado.
Um exemplo bem latente de como o feminismo foi distorcido pelo mercado é… ‘Sex and the City’. Sério. A caricatura grotesca que eu citei encontra nesse ‘produto cultural de massa’ uma das suas maiores representações.
Vai ver sou eu que sou chata…
Concordo com todos os argumentos do texto, mas discordo somente com a passagem sobre a regulamentação da prostituição. O sexo e o prazer sempre existiram sim, as construções sexuais é que são inumeras e variam de acordo com a época. É uma coisa inerente, prazerosa, o sistema vai lá e se aproveita dele, ele dá dinheiro, para homens e mulheres. A regulamentação não deve servir e nem pode como forma de estimular a prostituição (de homens e mulheres), mas sim tratar uma questão que se faz urgente como, por exemplo, as questóes trabalhistas e os direitos previdencários dessas pessoas. Não é uma questão de se essa pessoas escolheram ou não fazer isso, mas é uma atividade que lhe sustenta e sustenta a sua família e sendo ou não passageira, sendo ou não de escolha própria ou falta de opção não deve ser ignorada pelo Estado, ate como forma de controlar a exploração da atividade por agenciadores e o tangenciamento da atividade que envolve menores de idade. Gostaria de conversar mais a respeito disso.
Oi, flávia
então, como dissemos em outros textos aqui, a regulamentação não garante esses direitos para as prostitutas, inclusive, trata-se da regulamentação da cafetinagem (no caso do projeto do Jean Wyllys). Como profissão, a prostituição já é colocada dessa forma no Brasil, e a prostituição, ao menos no papel, não é crime.
Para darmos uma resposta às mulheres em situação de prostituição, a regulamentação não é a solução. Não se trata, é claro, de esperar a revolução chegar para fazer algo, mas sim ter acesso à educação, formação, e, principalmente, acesso a emprego, porque além dos fatores subjetivos, há fatores bem objetivos que fazem com que muitas entrem em situação de prostituição: a pobreza, miséria e falta de opções.
Nossa posição não é, portanto, a de invisibilizar essas mulheres, ou de que elas sejam ignoradas pelo Estado. Queremos que todas as mulheres tenham uma vida digna e que, justamente, não precisem prostituir-se para colocar comida na mesa.
Mas é um debate muito bacana e necessário. Tem outros textos aqui no blog, e provavelmente vamos postar outros sobre o tema! (Não falei tanto dessa questão específica aqui porque foi um texto mais geral sobre o feminismo liberal).
um abraço!
Gostei muito do seu texto, Maria Júlia! Reflete muito das minhas opiniões. Um abraço!
“Esse discurso, além de pregar uma liberdade individual – que ignora a organização coletiva, pois a liberdade depende somente do meu querer -, é o mesmo discurso que está por trás da regulamentação da prostituição: se as mulheres são livres para fazer o que bem quiserem com seu corpo, isso significa que a prostituição é uma escolha, certo? De acordo com esse raciocínio, sim. O que está acontecendo é a preparação do terreno para a aprovação da regulamentação da prostituição – não à toa aparecem também notícias de universitárias que “se prostituem porque querem”.
Essa discussão diz respeito a todas nós, mulheres. A prostituição só é vista como um “trabalho qualquer” porque nós temos poucas experiências em que exercemos nossa sexualidade de forma autônoma. Dessa forma, nos parece “normal” que uma mulher venda sexo. Naturalizar essa relação é naturalizar o acesso livre dos homens ao nosso corpo.”
– E se a prostituição NÃO for uma escolha, deveríamos negar direitos ás prostitutas por motivos meramente moralistas?
O fato de uma pessoa não ter escolhido exercitar uma função profissional não significa que devemos lhe negar seu bem-estar, caso contrário, ela estará mais vulnerável e propensa á exploração irrestrita.
Qual é o problema da pessoa alugar sua habilidade sexual por um momento? O acesso dos homens ás prostitutas não é livre, ele precisa pagar, e mesmo pagando, seu acesso é limitado. A prostituta não tem obrigação de fazer algo que lhe seja desagradável e desconfortável em nome da satisfação do cliente. Já ouviu falar que o direito de um termina quando começa o direito do outro? Pois é, o direito do cliente termina quando começa o da prostituta, e por aí vai. Nenhum cliente pode exigir um serviço que esteja acima da capacidade do fornecedor, e caso o cliente force-o a fazê-lo, ele estará cometendo um crime.
O problema de vocês é meramente moralista. Eu queria saber: como vocês agiriam caso uma mulher ESCOLHESSE se prostituir em uma sociedade de pleno acesso aos direitos fundamentais? Onde o sexo fosse visto como uma interação natural entre organismos e sua comercialização não fosse nada demais?
Prostituição será degradante enquanto existir a estigmatização da profissão e ela não for vista como um simples serviço, onde o trabalhador proporciona prazer ao seu cliente, e o último lhe paga o devido valor. Prostituir-se não é ruim, ruim é você considerar tal função como anormalidade e algo a ser combatido, não profissionalizado.
Não quero estimular a prostituição, mas sim dizer que ela poderia ser feita uma escolha CASO houvesse condições estruturais para aqueles que exercem essa função.
inclusive, há muitas funkeiras negras com letras mais feministas que essa daí “fiel eh o caralho”
“piranha eh o caralho vc não sabe o que eu sofri em casa” da mc nem
meu namorado é mó otario da mc carol
e deve haver outras
Eu gostei, mas ainda não estou 100% sobre algumas coisas apontadas no texto, como prostituição (preciso pesquisar mais sobre o assunto) e libertação feminina
Eu acredito que a libertação da sexualidade feminina seja importante, visto que a nossa sexualidade foi controlada historicamente pela questão religiosa e pelo mecanismo de herança (controlar quem serão os verdadeiros herdeiros já que somente a mulher pode saber quem são seus filhos).
Claro que temos um grande problema com a objetificação da mulher, e eu sinto que, pessoas como a Valesca, buscam esta liberdade por meio de uma objetificação. Mas, se a nossa sexualidade é controlada e tolhida a todo tempo, como transgredir a ela? Acredito sim que a mídia tenha se aproveitado do movimento para objetificar a mulher, colocando-a em uma posição inferior, mas será que todo o movimento está errado por causa disso?
” A mera ressignificação de determinados modelos não nos garante a emancipação pois não se trata de algo meramente cultural, mas de algo que tem raízes materiais.”
Pode ser que a “ressiginificação dos termos” não resolva o problema como um todo, mas acredito que faria diferença na vida de muitas mulheres hoje. Se a palavra “puta”, “vadia”, “vagabunda” entre outras dizem respeito uma mulher com liberdade sexual, não necessariamente uma mulher “sexualizada”, e todas as mulheres (ou quase todas) vão ouvir isso durante a sua vida, não seria legítimo buscar mudar a concepção acerca desses termos? Como a “marcha das vadias”, mesmo sendo um pouco controverso, tenta espalhar a ideia de que ser “puta” não é uma coisa ruim, mudando o significado da palavra, assim como “puto” não é algo ofensivo. Acredito que devem ser feitos alguns ajustes na forma de buscar transgredir estes conceitos e talvez eles não estejam sendo feitos da melhor forma.
Acho super válido que o feminismo relatado no texto busque esta mudança de ruptura, mas, para mim, não significa que as outras formas de mudança não são válidas.
Sensacional!!!! Tirou as palavras da minha boca! O capitalismo e a cultura de massas andam transformando movimentos sociais em NADA… Vale a pena a leitura de um artigo do juiz Souto Maior neste mesmo sentido. Abraços