#Julhodaspretas | Três poesias de Jaqueline Silva (MMM RN)

A publicação das poesias de Jaqueline Silva* compõe uma série de reflexões que foram promovidas pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM) durante o mês de julho, por ocasião do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha (25 de julho), e da urgência do pensamento e da ação do feminismo anticapitalista, antipatriarcal e antirracista.

Nada que hoje temos

Foi dado

Tivemos que enfrentar

Lutas e batalhas

As perdas que tivemos de ter

Para estar nesses espaços

Que ainda não é nem a metade

Do que temos por direito

Depois de termos pago tão caro

Com as vidas dos nossos irmãos

Que continuam a serem mortos

Por esses brancos de armas

Que falam em proteger a todos

Mas não pode ver um negro

Que confunde com bandido

Tenho cara de bandido?

Enquanto isso…

Os criminosos de verdade

Estão soltos

Com muito dinheiro nos bolsos

Aviões com cocaína

Utilizando a mídia

Para pregar

Discursos de morte

Que tiram milhões de vidas

Para quem realmente

Esses brancos de fardas trabalham?

___________________________________________

mais um

todos os dias são dias de luta

luta pela sobrevivência

luta por ter o direito de existir

luta por caminhar nas ruas sem ser assassinado por engano mais uma vez

nesta sociedade que tenta me apagar

me tornar invisível

mas o meu grito ecoa tão alto

que todos escutam

a minha dor, o meu pedido de socorro

o que há com você?

não sente que toda essa sua fúria mata a cada meia hora um dos nossos

não vê que é o maior dos pecados

o suicídio desse povo que tanto luta para viver nesse mundo tão desigual

não me escuta?

estou morrendo

está me tomando todo o ar

estou sem respirar

pára, pára

não seja mais um que mata só por matar

por não ter respeito por quem eu sou

eu sou humano como você

eu fui humano

e você, herói ou vilão?

de quem?

para quem?

para mim, você é só mais um quê não pensou duas vezes antes de me tirar a vida

___________________________________________

Do samba a ginga

Sou guerreira de Dandara

Mulher forte

Heroína

Ao lado de Zumbi lutou

Pelo seu povo enfrentou

A tirania

A escravidão

E a ira dos que diziam:

“Preto não tem direito não!”

Não tem liberdade

Não tem educação

Não tem cultura

Não tem história

A nossa força

e a nossa luta

Vem de toda uma geração

Que mostrou

Que preto é igual a qualquer pessoa amarela ou branca

Somos todos seres humanos

E não é o seu preconceito

Que nos proibirá

De ocupar nosso lugar

Quem decide o meu lugar

Sou eu

Preto é força

É sabedoria

É samba

É ginga

*Jaqueline Silva é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Norte (RN)

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