A publicação das poesias de Jaqueline Silva* compõe uma série de reflexões que foram promovidas pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM) durante o mês de julho, por ocasião do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha (25 de julho), e da urgência do pensamento e da ação do feminismo anticapitalista, antipatriarcal e antirracista.

Nada que hoje temos
Foi dado
Tivemos que enfrentar
Lutas e batalhas
As perdas que tivemos de ter
Para estar nesses espaços
Que ainda não é nem a metade
Do que temos por direito
Depois de termos pago tão caro
Com as vidas dos nossos irmãos
Que continuam a serem mortos
Por esses brancos de armas
Que falam em proteger a todos
Mas não pode ver um negro
Que confunde com bandido
Tenho cara de bandido?
Enquanto isso…
Os criminosos de verdade
Estão soltos
Com muito dinheiro nos bolsos
Aviões com cocaína
Utilizando a mídia
Para pregar
Discursos de morte
Que tiram milhões de vidas
Para quem realmente
Esses brancos de fardas trabalham?
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mais um
todos os dias são dias de luta
luta pela sobrevivência
luta por ter o direito de existir
luta por caminhar nas ruas sem ser assassinado por engano mais uma vez
nesta sociedade que tenta me apagar
me tornar invisível
mas o meu grito ecoa tão alto
que todos escutam
a minha dor, o meu pedido de socorro
o que há com você?
não sente que toda essa sua fúria mata a cada meia hora um dos nossos
não vê que é o maior dos pecados
o suicídio desse povo que tanto luta para viver nesse mundo tão desigual
não me escuta?
estou morrendo
está me tomando todo o ar
estou sem respirar
pára, pára
não seja mais um que mata só por matar
por não ter respeito por quem eu sou
eu sou humano como você
eu fui humano
e você, herói ou vilão?
de quem?
para quem?
para mim, você é só mais um quê não pensou duas vezes antes de me tirar a vida
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Do samba a ginga
Sou guerreira de Dandara
Mulher forte
Heroína
Ao lado de Zumbi lutou
Pelo seu povo enfrentou
A tirania
A escravidão
E a ira dos que diziam:
“Preto não tem direito não!”
Não tem liberdade
Não tem educação
Não tem cultura
Não tem história
A nossa força
e a nossa luta
Vem de toda uma geração
Que mostrou
Que preto é igual a qualquer pessoa amarela ou branca
Somos todos seres humanos
E não é o seu preconceito
Que nos proibirá
De ocupar nosso lugar
Quem decide o meu lugar
Sou eu
Preto é força
É sabedoria
É samba
É ginga
*Jaqueline Silva é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Norte (RN)
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