É o mesmo capitalismo racista, só que com estampa diferente

Por Elaine Monteiro*

Pouco mais de um mês depois do Rio de janeiro ter estampado os noticiários nacionais com a chacina do Jacarezinho, que ceifou 30 vidas, a PMRJ volta às manchetes: mataram uma mulher negra grávida em mais uma mais uma ação violenta nas favelas cariocas. Quando recebi a notícia, pensei “poderia ser eu”.

Este é um dos fardos cruéis que carrega a população pobre e preta no Brasil: o capitalismo racista em sua expressão estatal. Por ser uma ideologia muito bem arraigada na sociedade, sua aplicação não se limita ao extermínio de vidas negras e pobres, ela está também nos âmbitos mais sutis do cotidiano, na conformação do imaginário social, no que instiga o consumo, no que vestimos.

Nem 24 horas da tragédia haviam se passado quando a Farm, empresa de roupas para quem Kathlen trabalhava, decidiu capitalizar sua morte e lucrar em cima de sua imagem. Anunciada nas redes sociais, a nota de solidariedade da grife com a família da funcionária incluía uma declaração de que a comissão proveniente das vendas feitas com o código de vendedora de Kathlen seria revertida em doação à sua família.

Em outras palavras, Kathlen continuaria rendendo lucro para a empresa, mesmo depois de morta!

Aqui cabe um adendo: a comissão que ganham as funcionárias da Farm não chega nem a 5% do valor das vendas. A declaração da marca nada mais era do que uma ação de marketing.  O objetivo estava claro: associar, de maneira “positiva”, a tragédia à marca.

O caso de Kathlen mostra a correlação nítida de interesses entre racismo e capitalismo. Denunciar que “este é o capitalismo” não exime a marca da culpa local da sua ação racista (recorrente), mas evidencia como o capitalismo consubstancializa violências em diversos âmbitos – na política de morte à frente do governo do Estado ou numa grife de roupa pseudoprogressista.

Por isso, precisamos reafirmar que o capitalismo lilás e o capitalismo estatal são faces diferentes de uma ação igualmente violenta: a sujeição racista e genocida do capital sobre a vida humana.

*Elaine Monteiro é militante da Marcha Mundial das Mulheres do Rio de Janeiro e Diretora de Mulheres da UNE.

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