Lésbicas contra Bolsonaro, lésbicas pela visibilidade

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Por Michelly Felix*

29 de agosto é a data que marca o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, estabelecida em 1996 durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas no Brasil. As mulheres reunidas nesse seminário buscavam contextualizar as  lutas e resistências contra a lesbofobia, o machismo, o racismo e todas as formas de violações de direitos das mulheres lésbicas e bissexuais, no âmbito público e privado.

O Dia Nacional da Visibilidade Lésbica  marca e traz para o debate os diversos atravessamentos a que nós lésbicas estamos expostas diariamente. Dessa forma, é importante destacar as múltiplas intersecções que nos recaem apenas por sermos lésbicas, no que diz respeito aos desafios e enfrentamentos vivenciados, na luta pelos nossos direitos enquanto “ser e existência”. Compreendemos que é preciso reconhecer e dar visibilidade às pautas lésbicas, visto que nós, ainda sofremos diversas formas de violências, como os  estupros corretivos em forma de reorientação sexual, que consequentemente intensificam-se na opressão imposta pela sociedade, em que somos constantemente, alvo de violência simbólica, verbal, psicológica, física e econômica.

Podemos observar, que em uma sociedade capitalista, patriarcal e racista, a sexualidade subversiva é marginalizada e invisibilizada. O sistema de dominação patriarcal enredado nas relações sociais  determina padrões anulando a existência de identidades não reconhecidas nesse sistema. 

Apesar de alguns avanços, o testemunho de uma memória ainda precisa ser dado pelas suas protagonistas, que articulam sua existência pessoal com a resistência coletiva. As diferenciações sexuais pautadas em um modelo heterossexual-patriarcal contribuíram para uma invisibilidade e anulação dos nossos direitos. (Re)construir a nossa memória para que possamos falar em uma identidade lésbica individual e coletiva desses corpos é imprescindível para nos conhecermos as sujeitas dessa história. 

 É permanente a necessidade de dialogarmos sobre a importância e o significado da visibilidade das lésbicas em nossa sociedade.  Nossa visibilidade precisa ser construída de acordo com as necessidades das mulheres lésbicas, na integralidade das nossas demandas, que possam ser consolidadas na articulação da resistência, da busca por direitos e das mudanças nas relações sociais. 

Para que ocorra o reconhecimento dos corpos invisibilizados nessa padronização social, é fundamental a recuperação da memória lésbica cooptada por esse sistema, bem como uma análise da produção de identidade conquistada pela resistência de nossos corpos políticos. É preciso ter mulheres lésbicas na política, nos órgãos públicos, nas mídias, na academia, nas várias instituições. É preciso que nos reconheçamos nas outras para que a visibilidade seja agente promotor da desconstrução da heteronormatividade.

Entretanto, torna-se evidente que o processo de conscientização dessa reconstrução e reconhecimento da identidade lésbica individual e coletiva é fundamental para os direitos humanos já positivados e lutar por mais políticas e por outra sociedade, capaz de alterar a lógica de invisibilidade e violência imposta sobre nossa sexualidade.


A organização das mulheres lésbicas faz parte do movimento feminista! A luta lésbica nos coletivos e movimentos são construções importantes para que o debate da visibilidade seja tangenciado em instrumentos que fortaleçam a caminhada por uma sociedade onde seja possível amar outra mulher livremente. O atual governo não apenas fecha os olhos, mas também vem causando uma série de desmontes das políticas públicas para as mulheres. É imprescindível denunciar e lutar contra a política conservadora e neoliberal de Bolsonaro, que coloca nossos corpos e nossas relações em uma rede de discursos de ódio e violência.

Na Marcha Mundial das Mulheres, reafirmamos nosso posicionamento contrário a esta política de morte do governo Bolsonaro e marchamos para dar visibilidade e voz para que a luta de tantas mulheres lésbicas possa ecoar mais forte na transformação da sociedade. 

 

*Michelly Felix é militante da Marcha Mundial das Mulheres do Mato Grosso do Sul. O texto contou com contribuições das militantes Ana Clara Franco (Minas Gerais), Thainara Felix (Mato Grosso do Sul) e Helena Zelic (São Paulo).

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