*Por Gerusa Bittencourt
25 de julho, dia da Teresa de Benguela.
Comandou o Quilombo do Quariterê. Ela foi rainha do quilombo. Politica e economicamente, organizava a vida de negros e indios livres, por fugirem da servidão. Hoje é o dia da mulher negra latina e caribenha e também o dia de Teresa. Hoje é o nosso dia. Pois vejo nas comunidades mulheres negras, que comandam suas casas, como chefas de famílias, que organizam a vida politica e economica de suas gentes. Nas comunidades nossas grandes mães e avós que se desdobram pra garantir o alimento, a educação, a roupa e a liberdade da nossa juventude negra. Hoje é um dia pra lembrar, celebrar e lutar.
A trajetória histórica das mulheres negras nunca foi fácil, nem por isso não podemos dizer que deixou de ser honrosa. Quando analisamos quem são as pessoas que criam, educam e sustentam nossas gerações e gerações de famílias, veremos que são as mulheres, e em especial, as mulheres negras. Onde vale a pena a comparação? Teresa de Benguela era chamada rainha do quilombo, pois ela era a grande liderança de um local de refúgio, sociedade rural, de atividade economica ativa, com toda uma estrututra organizacional que dava conta de ser chamada de comunidade quilombola.
Hoje, as rainhas dos quilombos comunitários e das favelas são as mulheres negras. Mães solteiras, ou melhor, mães que criam seus filhos sem um companheiro, mas que comandam com maestria famílias inteiras. Que resistem e se fazem respeitar por não deixar nada faltar. Mesmo quando o governo insiste e massacrar, cortar verbas pra saúde e educação, elas seguem firme na resistência. Mesmo quando o governo insiste e matar a juventude negra com políticas de limpeza etnica e racial, mesmo quando o alvo da polícia é o corpo da juventude negra, as mães, mulheres negras, Teresas dão seu proprio corpo em defesa como numa luta de capoeira.
O quilombo é minha casa. O quilombo é na tua casa. Cada uma de nós é lugar de resistencia. Cada uma de nós é um quilombo de fogo e suor. A cada jovem negro morto, morre parte de uma Teresa, ou uma Maria, ou uma Ana. A cada jovem negro que se forma na universidade, aquela mesma Teresa se fortalece e florece mais forte. Por isso, hoje é nosso dia, das Teresas, Marieles, Dandaras. Seguimos na luta, porque nossa raiz é guerreira. Seguimos na luta, porque a história exige e o tempo cobra. Precisamos ser militantes em tempos tão dificeis. Afinal, quando foi fácil? Até onde me conste, nunca.
Pra que minhas filhas e minhas netas possam ser livres, mulheres, rainhas, líderes, seguiremos em marcha. Pra que valha cada gota de sangue de Teresa, derramado na defesa do quilombo, seguimos.
Um salve ao quilombo do passado e ao quilombo de hoje. Um salve as mulheres negras, que resistem. Um salve a juventude negra, criada por essas mulheres e que tem levantado cada vez mais forte um grito por liberdade, pela vida e contra o racismo.
*Gerusa Bittencourt é militante da Marcha Mundial das Mulheres no Rio Grande do Sul
Deixe uma Resposta