Por Fabiana Oliveira*
Divulgação, memória, troca. Uma boa reflexão sobre comunicação pode começar com uma pergunta. Para que serve comunicar? Para quem queremos comunicar? Por quais motivos? As especulações sobre comunicação, sobretudo nas redes digitais, estão presentes em muitas das nossas conversas. Há uma preocupação coletiva sobre com quem dialogamos e por onde conseguimos alcançar outras pessoas. Há, ainda mais, uma apreensão em relação ao poder e alcance dos nossos algozes.
Muitas de nós defendemos que as redes sociais são um território de disputa. De fato, o são, mas entramos nesta disputa, assim como em outras, com armas diferentes das que os nossos adversários possuem. O Facebook, por exemplo, altamente popular entre muitas, é propagandeado como uma ferramenta gratuita e neutra. Entretanto, lucra vendendo os nossos dados e monetizando a circulação de informação.
O que isso quer dizer? O Facebook faz com que as páginas tenham, organicamente, menos alcance que os perfis pessoais. Supostamente, isso seria bom, porque assim poderíamos ver mais atualizações de nossas amigas, companheiras e familiares. Na verdade, o que acontece é que, para alcançar mais pessoas, as páginas passam a patrocinar suas postagens. Com isso, o alcance vai sendo expandido. Funciona como um caça níquel: num dia, patrocinam o post e o alcance dele é grande. No outro, ao fazer uma postagem sem patrocínio, o alcance vai lá embaixo. Isso incentiva a pessoa que cuida desta página a colocar dinheiro novamente, e assim, o fluxo da comunicação via rede social vai se alterando.
Isso quer dizer que a informação que chega até você, de modo orgânico, é um produto. Muitas vezes, isso acontece porque alguém pagou por essa popularidade. Este é o momento de se fazer uma outra pergunta: quem – e por quais razões – fez esse pagamento? As possibilidades são múltiplas, mas conhecer este tipo de fluxo é importante para que possamos conceber, entre nós, outras visões sobre comunicação, nas redes sociais ou fora delas. Como militantes, precisamos compreender que nossa comunicação é parte integrante do nosso projeto político. Ela não (só) divulga, constrói! Qual comunicação queremos construir?
Este também é um questionamento com muitas respostas possíveis. Nestas notas, quero defender que o nosso processo comunicativo seja bilateral. Com isso, quero dizer que comunicar não é apenas uma técnica, tampouco uma atividade somente de profissionais. Todas nós temos plena capacidade de atuar como comunicadoras. Registrar nossas atividades, transmitir informações sobre elas, compartilhar os conhecimentos que temos sobre ferramentas e linguagens. Isso é importante para que o nosso alcance – que não é pago, nem nunca será, porque não queremos dar mais lucro para as empresas que já ganham roubando nosso dados – possa, de fato, se expandir. Mais que isso, é importante para que possamos construir uma comunicação autônoma, com a cara do nosso feminismo, que não é institucionalizado, não se parece com uma atividade profissional e sabe que importa mais aquilo que fazemos coletivamente. O nosso fluxo comunicativo pode ser permanente e horizontal.
Além disso, com bilateralidade quero dizer que muitas vezes teremos que buscar na fonte. Procurar nas nossas plataformas os conteúdos que queremos encontrar e que desejamos que outras pessoas encontrem. Se eles têm dinheiro, vontade de vender produtos e construir celebridades virtuais, temos o anseio de tornar comum aquilo que aprendemos juntas, cotidianamente, nas nossas lutas nas ruas, redes e roçados!
Há ainda outras perguntas que podemos nos fazer: as redes sociais – o Facebook, o Twitter, o Instagram – são mesmo um instrumento de diálogo potente? Para dialogar com quem? Quais outros podemos construir? Essas respostas não estão prontas e espero que nunca estejam. Elas podem sempre ser formuladas a partir da coletividade. Somos muitas e diversas. Nossas estratégias devem refletir essa pluralidade! Por uma comunicação feminista e popular, por ferramentas mais livres e seguras, por uma cultura de segurança entre todas nós, por mais autonomia e horizontalidade: seguiremos em marcha!
*Fabiana Oliveira é militante da Marcha Mundial das Mulheres em São Paulo e integra o Coletivo de Comunicadoras do MMM
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